Síndrome do Titanic

Programador Sincero
21 min readNov 13, 2022

TL;DR: Se você é um excelente operador de motor do Titanic, você nunca irá desenhar a gostosa pelada e nunca comandará o navio.

E aí? Vai ser um programador para sempre ou vai querer liderar e “subir” na carreira? Pense bem e segue o fio!

Photo by Joseph Barrientos on Unsplash

Sobre ficar versus partir

Em geral, nossa área, é muito difícil ver pessoas que estão há muito tempo na empresa. Pelo que vejo no LinkedIn, o máximo que vejo as pessoas aguentarem em uma mesma posição é 2 anos. Ou acontece uma promoção interna ou uma mudança de empresa. E estou vendo cada vez mais pessoas fazerem movimentações complexas como por exemplo, ser Head de uma área por 9 meses e depois ir para Gerente LATAM por mais 11 meses e depois ser CIO por mais 5 meses. Sem dó. Por puro dinheiro. Esse tipo de cara geralmente entra e sai, deixando a empresa na mesma situação. Não acrescenta em nada e em geral, acho esse tipo de ação comparável com principal tema de “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera: A Leveza e o Peso.

A Leveza é sobre liberdade pura, possibilidades totais e ações irrestritas. Entretanto, são ações Leves são ações sem qualquer impacto, sem qualquer significado, sem qualquer legado e sem qualquer importância para os outros. O ações com Peso são ações que quase sempre são carregadas por grande sofrimento por agir dentro de enormes restrições. É sobre sentir na carne. É sobre dor. É sobre fazer. É sobre entregar. É sobre se importar. É sobre lutar para mudar. É sobre gerar impacto. É sobre ações plenas de significado, porém, que demandam muito esforço e resiliência. Não é coisa rápida.

Todos nós precisamos “ciclar”, vivenciando e absorvendo os aprendizados, dores e alegrias de épocas mais leves e mais pesadas. E isso também acaba se traduzindo, em alguns casos, em relações de trabalho que acabam sendo duradouras, cheias de peso e significado para todos.

Ficar é aceitar o peso. O fardo da existência. É aceitar a dor. É entender que há um compromisso, que você se importa com o projeto, com o time, com as pessoas, com a empresa e aceita que este peso possa vir a te musculatura futura na carreira. Ficar é entregar. Ficar é deixar um legado.

Um dia você terá que ficar. Em meio a um caos e em meio à impermanência, você terá que ficar, permanecer. Ser. Estar. Comprometer-se.

Honra

A honra é uma qualidade intrínseca de grandes homens e mulheres, presente em todas as fases da História humana e claramente, uma das características mais marcantes de um profissional de mercado ainda hoje. A honra é compromisso em fazer o melhor possível para todos às sua volta, mesmo que isso exija a coragem de agir contra os próprios interesses pessoais. Isso pode significar a perda do próprio emprego ou possíveis promoções, comprometer a própria família ou a própria integridade física/vida. Uma pessoa honrada consegue aceitar a troca de um imenso Peso no presente por uma crença/certeza/sensação de que na verdade, ela é parte de um plano mais sutil e mais duradouro do que a atual situação. Sendo parte de um mecanismo mais sutil e duradouro, as ações corretas e honradas acabam ficando como um legado ou uma melhoria sustentável na vida de todos os envolvidos.

Uma pessoa honrada não vai aceitar fazer coisas incorretas e na verdade, aceitará sempre fazer tudo que é o “certo” porque muitas vezes, ela tem um senso de missão, de suportar o time, de ajudar quem precisa, de fazer o bem, de se sentir uma ferramenta de algum bem maior naquela situação. Talvez até se sinta atraída pela ideia de lutar pelo time, de proteger o time, defender o projeto e atender aos clientes de forma efetiva.

Honestidade e Honra são características de pessoas que estão em um degrau energético superior. Incompreensível para alguns, inacessível ainda para outros. Pessoas honradas e honestas, na verdade, são assim e não esperam ganhar nada em troca por serem super honestas e honradas. Assim são e assim serão, independentemente da situação ou das forças do problemas em questão.

Abusando de pessoas honradas

Uma pessoa honrada e competente sempre fará seu trabalho com maestria. E fará tão bem, com tamanha eficiência, que com o tempo, poucos notarão que ela faz aquele trabalho, ou então a terão como um pedal do acelerador — os chefes pisarão nelas, e simplesmente, elas farão seu trabalho com maestria, fazendo então o carro andar conforme o pedido. Este tipo de profissional é muito similar à pessoa que limpa o banheiro ou faz o café. Só se percebe sua ausência quando o banheiro está sujo ou o café não está lá como sempre.

Essas pessoas honradas, que sempre entregam ou até superam o que deveriam entregar são maravilhosas para os gestores. Logo, podemos ver que essas pessoas estão “colaborando” cada vez mais. Quando uma pessoa dessas passa a ser confiável e resolve ficar na empresa, rapidamente é alçada a posições de liderança técnica em TI. Aí, começa a sequência de abusos.

Em geral, os gestores chegam com o deadline às vezes crítico para o negócio como um marco regulatório, um IPO, alguma coisa santa que realmente “precisa” ser feita senão, “a empresa pode não conseguir manter todo mundo”, “não será possível conseguir mais investimentos sem ter um número para 2023”… Ou então, sempre tem aquelas outras justificavas como “precisamos entrar no mercado antes do Q1 fiscal para alavancar mais contratos que estão no pipe e salvar 2023”, “o time de vocês é o único que conseguirá entregar essa feature dentre todas as squads”, “o board decidiu que esta feature precisa ser entregue por um time de confiança como o de vocês” e etc. É sempre uma necessidade de salvamento que chega nesse tech lead, nesse senior developer, que no fim, é o cara que terá que correr atrás de tudo e terá que passar as especificações para o time ou terá que virar noites para entregar e salvar todo mundo.

E é ele quem entra com o esforço. As pessoas de negócio até ajudam a testar em alguns casos, os gestores até fingem que se importam quando tem alguma war room / ocorrência, até tem todo um show corporativo de envio de emails, cobranças, dependências de times e deadlines públicos assustadores. Mas no fim, quem trabalha são os programadores e principalmente, o tech lead, que precisa dar vazão ao time. É o pedal do acelerador. É o responsável e o cobrado pela entrega. Tem que ajudar a montar e evoluir o time. Tem que motivar a galera. Tem que dar um “senso de missão” a quem só quer saber da grana e sequer, tem a intenção de ficar mais tempo na empresa. E quando o pessoal sai, ele tem que gastar uma energia brutal com onboarding, acessos, documentação, reuniões, knowledge transfer e muito mais para fazer o time performar. E a pressão continua forte. O stress, cortisol, a necessidade de compensação e o inferno todo que já sabemos. Bebida, vida desregrada, café, cortisol, drogas, falso TDAH para conseguir remédios e demais ações para performar cada vez mais.

Notem que nunca há paz para um tech lead. É muito raro encontrar um lead que trabalhar só as 8 horinhas do dia. É muito raro encontrar um tech lead com tempo até para conversar e trocar uma ideia por mais tempo — sem tem uma reunião chegando. O calendário do tech lead é a merda mais sinistra que eu já vivi no passado.

Autoescravização por honra

O problema é que as pessoas abusadas nesse sentido acabam se sentido muitas vezes, incompetentes, improdutivas ou mesmo, sentem alguma síndrome do impostor. Ou então, acabam se viciando pela sensação de serem muito úteis no cargo. Muitos também são perfeccionistas e acreditam que só a excelência técnica pode evitar que barco afunde. A cada novo projeto, se esmeram ainda mais por causa da “confiança” e da possibilidade de “ajudar”. Talvez essas pessoas busquem no fim um feedback positivo, um reconhecimento público, um projeto no ar que coloque os holofotes nelas… mas infelizmente isso nunca acontece. No máximo, rola aquele agradecimento privado ou um obrigado numa thread do slack/e-mail. Nada que gostaríamos. Eu particularmente já vi muitos caras entregarem coisas fantásticas que foram divulgada como uma simples feature para a empresa, em meio a diversas outras features. Não veio nada próximo de um reconhecimento expresso do CEO, um bônus significativo, uma promoção, uma menção no linkedin detalhando o accomplishment e o impacto do projeto, ou qualquer outra coisa do gênero. Nada mais que o dever e obrigação de alguém bem pago para fazer o que precisa fazer.

Entretanto, mesmo assim, alguns nobres e honrados trouxas ficam bem felizes com os agradecimentos do gestor direto, sentem-se um pouco mais amados e continuam fazendo mais e mais. Esses heróis anônimos estão acostumados a sofrer para ver os outros felizes. É bonito, mas é triste. E desnecessário. A analogia do herói anônimo não reconhecido e honrado é fantástica nesse caso. Toda a empresa tem um Peter Parker ou um Clark Kent. Sempre aparece algum herói para salvar na hora H.

Nossos heróis no fim acabam padecendo por causa da propensão a sempre fazer o “certo”. E sem reclamar, acabam trabalhando por 70 horas semanais, com a marca da empresa tatuada na testa. Sempre são “premiadas” com novas responsabilidades “importantes”. Com uma importância cada vez maior, notamos daqui de longe que isso geralmente leva à….

Síndrome do Titanic

Quem assume a casa de máquinas nunca será o Capitão do Titanic.

É simples: se você se torna o Trouxa da Casa de Máquinas, você nunca será o Capitão. Não vai poder desenhar a gostosa pelada. Não vai sequer sentir o cheiro do perfume top da gostosa. Não vai ficar com os braços abertos coladinhos com ela. Não vai poder dançar nas suntuosas festas do salão. O seu copo, no máximo, terá água limpa sem gelo.

Sendo o Trouxa da Casa de Máquinas, você sempre será o Trouxa da Casa de Máquinas. Se você sair, quem ficará no seu lugar, com tamanha honra? Nunca terá alguém à sua altura para comandar a casa de máquinas com tamanha maestria. Talvez você sinta revolta e uma eventual vontade de sair, com o passar dos anos. Talvez consigam te convencer colocando mais água e mais gelo no seu copo, enquanto você trabalha no calor e coloca cada vez mais carvão no motor.

Na verdade, neste texto eu falo dou mais explicações sobre como é ser o cara que dirige um caminhão em chamas:

https://medium.com/programador-sincero/trabalhe-para-fora-em-2021-456a1bdea2ec

Carreiras técnicas em 2022 e trabalho remoto para o exterior

Em 2022, no cenário atual de câmbio e dinamização do trabalho remoto, é perfeitamente aceitável ser assumidamente um operador de Titanic, sem qualquer tipo de pretensão de crescimento. Por puro dinheiro e vantagem cambial. Hoje é possível ser um cavalo que puxa a carruagem em troca de euros, dólares e submissão a empregadores estrangeiros, que usam brasileiros de alta qualidade como mão-de-obra para suas casas de máquinas titânicas.

Indo na questão de trabalho remoto, note que um bom trabalhador técnico nunca ficará sem emprego e terá uma qualidade de vida muito acima do que é possível ao trabalhar no Brasil. O câmbio atual permite esse tipo de situação, mas claro, tudo pode mudar.

Embora seja uma estratégia financeira interessante, é complexo implementar isso na prática. Conseguir conquistar a confiança dos gringos, trabalhar direito, entregar e principalmente, não pedir as contas e não ser demitido…….pode levar novamente a ser o novo Trouxa do Titanic.

Com o tempo, você será um bom trouxa de confiança que consegue pegar mais demandas, que nunca fala não, e que irá ficar feliz com apenas 2 pedras de gelo a mais no copo de água francesa ao invés de água da torneira. E aí o ciclo pode continuar. E de novo, autoescravização, honra, confiança em trabalho remoto, julgamento de si mesmo em comparação com pessoas ainda melhores (os melhores do mundo ganham em USD em EUR porque eles conseguem pegar os melhores devs remotos do mundo), uma língua diferente…. tudo isso contribui para o medo de querer um algo mais, que falo logo abaixo:

Intencionalidade na carreira

Eis alguns erros na gestão de carreira que são cometidos frequentemente cometidos por caras inteligentes e experientes, como eu e você!

  1. Não saber onde se quer chegar
  2. Não ter coragem de comunicar para a gestão sobre a intenção de progresso de carreira dentro da empresa
  3. Medo de liderar tecnicamente ou então, encontrar um equilíbrio estático como um líder técnico
  4. Medo de ter que entrar em politicagem da empresa

Vamos por partes.

Não tem como o gestor adivinhar que você quer ser um tech lead caso ainda seja um dev; não tem como a gestão superior adivinhar que você ficou triste ao ver a promoção do tech lead par para Engineering Manager; Não tem como as pessoas adivinharem como você está se sentindo em relação aos projetos. Não tem como adivinhar o quanto você está disposto a colocar de energia para a empresa crescer.

Por isso, é preciso ser intencional na sua carreira. É preciso quebrar correntes imaginárias. É preciso ter coragem para ouvir um não e uma possível rejeição ao pedir aumento ou promoção. Isso precisa ser verbalizado. Você precisa comunicar a sua intencionalidade com as suas ações.

Os gestores, trabalhando com as informações que têm, irão colocar você nos planos de acordo com o que eles sabem sobre você e de acordo com o que eles acham que você irá aceitar melhor. Se você não comunicar que quer alguma liderança no curto ou médio prazo, eles irão colocar algum outro cara pra liderar você, e isso pode ser muito, muito ruim.

Aqui escrevo mais sobre optar por não liderar:

https://medium.com/programador-sincero/n%C3%A3o-liderar-n%C3%A3o-%C3%A9-uma-op%C3%A7%C3%A3o-ce3bac648838

Muitos caras que conheci na carreira são excelentes tecnicamente e em geral, não querem qualquer coisa a mais além de fazer tasks e ir pra casa, com uma bela grana no bolso. Não os condeno. Mas chega um momento em que ignorar a possibilidade de liderar pode significar delegar um eventual crescimento de bônus, salário e demais benefícios para um gestor que pode ser um filho da puta infernal e pode acabar fodendo você, mesmo após muito anos e sprints no time. Como eu falo no link que passei acima, a não-ação também é uma ação e não liderar significa ser liderado por um potencial otário, que dada a sua posição, poderá infernizar a sua vida e acabar com a sua saúde psíquica. Isso já aconteceu comigo mais de uma vez e em tais oportunidades, eu fiquei doente porque na época, não tinha o controle emocional que tenho hoje em dia.

Repense. Veja se faz sentido liderar. Veja se faz sentido correr novos riscos e usar seu cargo e sua experiência para ajudar a empresa de outros modos. Pode ser que faça sentido experimentar coisas novas, e pode ser que isso aumente significativamente a sua renda nos próximos anos.

Para se ter uma ideia, o bônus e total compensation de um cargo de liderança, como um Engineering Manager por exemplo, pode ser 250k BRL acima de um cargo de Dev Sênior. O bônus é bem maior, participação nas ações, ganhos indiretos como carro da empresa, auxílios de saúde e escola — tudo isso conta. Há algumas exceções, como Especialistas I e II, Staff e Principal que podem até fazer mais dinheiro. Mas de qualquer maneira, esses níveis exigem um grau muito maior de interação, conversas e cada vez menos tempo de código. Ou seja, mesmo em carreiras técnicas, ascensão e dinheiro andam lado a lado com a capacidade de comunicação, esforço energético e geração de impacto.

Nós nos tornamos aquilo em que mais pensamos

Absolutamente todos os livros de autoajuda concordam com a afirmação acima. Todos eles entendem o poder dos pensamentos em nossas vidas.

Quanto mais pensamos em algo, mais criamos esse “algo” em nossas vidas. Quanto mais acreditamos em algo, cada vez mais criamos meios para confirmar essas crenças. E claro, podemos mudar nossas crenças e pensamentos dominantes para obter novos resultados.

Se você aceita que é muito honrado e importante comandar a cada de máquinas de algum Titanic, é isso que vai acontecer. A sua mente é tão poderosa que fará com que você realmente seja esse cara. Andará com essas roupas, trejeitos e postura de técnico. Terá só conversas técnicas. Tentará ser um técnico muito bom e mais nada. E no fim, você será fatalmente substituído por qualquer motivo e terá que buscar um novo navio e pronto. Até quando? Com 50 anos você continuará fazendo queries e programando? Até quando aguentará receber ordens como um pedal de acelerador?

Creio que qualquer pessoa como nós, que já consegue ler este texto e dirigir um carro, pode mudar nosso modelo mental dominante quando quisermos. Pensar, fazer cursos, absorver livros e vídeos sobre o assunto ajuda bastante a quebrar as barreiras invisíveis que normalmente nos impedem de ir livremente para o andar de cima. O que tem no andar de cima? Maior renda, maior possibilidade de gerar impacto, maiores chances de ganhar importância no navio não por ser um excelente técnico, mas talvez, por ser capaz de fazer com que o time entregue as demandas de forma sustentável ao longo dos meses e anos.

O mesmo vale para o nosso dia. Se pensarmos que o trabalho atual está uma bosta, infelizmente, teremos mais disso. Se acharmos que o gerente é um lixo, teremos mais disso. Se acharmos que o time é um completo fracasso, não tenham dúvidas meus caros — esse pensamento dominante acabará gerando mais do mesmo. Portanto, temos que fazer esse exercício de pensar no que queremos para nós, e usar nossa imaginação para conseguirmos mudar nossa realidade. Mais abaixo eu explico o impacto disso em minha vida recente.

Tenha um objetivo concreto (meta o louco)

Como você se vê daqui a 1 mês? 6 meses? 12 meses? 24 meses? 5 anos? É preciso ter isso bem desenhado e colocado no papel. Eu fiz esse exercício e coloquei como objetivo, ter uma renda equivalente a seis meses do meu salário atual de Setembro de 2019, que foi quando aprendi um pouco mais sobre o poder da nossa mente. De fato, eu não atingi esse objetivo, mas hoje, estou entre 50% a 60% daquele objetivo, em 2022. Isso significa um salário massivamente mais alto do que a média. Meu objetivo naquele dia foi conseguir uma renda mensal 96k mensais brutos! Eu ainda estou lutando por esse objetivo e eu tenho mudado quem sou para conseguir isso.

Não só sobre ter uma renda alta, mas sim sobre a pessoa que você precisa se tornar para gerar uma renda alta.

E ao ter esse objetivo, tive que ter agir de formas que até então eu não teria coragem. De acordo com esse objetivo, eu acabei entendendo naquela época de 2019 que de fato, não rolaria mais ficar como um trouxa, sendo CLT, esperando a minha vez de brilhar através de longos ciclos de dar o cu, puxar o saco, vencer outros postulantes às promoções, torcer pro projeto dar certo e torcer por reconhecimento de terceiros — no melhor dos casos. Eu teria que assumir novos riscos e tolerar medos que eu nunca tinha sentido antes para poder aumentar meus rendimentos.

Logo, eu resolvi mudar a minha “fórmula do sucesso”. O emprego da época exigia uma quantidade enorme de horas-extra gratuitas. Eu simplesmente decidi parar, porque afinal, mesmo com todo o esforço e sucesso nas entregas, o meu chefe me via apenas como um “fruto do meio”, uma coisa esperada de um time fantástico. Ele não conseguia individualizar a minha colaboração, o que na prática, resultou em um bônus abaixo do que muitos colegas que trabalharam menos conseguiram. Isso me enfureceu e foi mais um motivo para eu simplesmente fazer meu “quiet quitting” e fazer apenas o estritamente necessário para entregar as coisas no prazo, o que por si só já era um trabalho homérico. Hoje eu até entendo que eu deveria ter cultivado uma relação melhor com o gerente, deveria ter sido “menos técnico” e mais político, deveria ter feito inúmeras coisas diferentes para ter sucesso. Mas ao pensar nisso, qual sucesso eu teria? Um promoção pra um nível 33, saindo de um 32 no qual eu já estava há mais de ano? E como eu chegaria em um nível 40, com tanta gente na frente?

A carreira de uma pessoa nunca é individual. É muito difícil controlar seu destino de forma limpa, sem concorrer com ninguém, sem cogitar atrapalhar os resultados do seu concorrente direto e principalmente, sem cogitar usar de maledicência e outros métodos para atrapalhar os colegas. A ascensão pura, limpa, religiosamente ética era rara ou virtualmente impossível. Inclusive, a empresa tinha uma rede de informantes que ficavam levando e trazendo tudo o que fazíamos e falávamos. Então, de fato, as chances eram mínimas ser subir sem topar fazer maldade contra os colegas e sem entrar nessa rede de espionagem e maledicências.

Eu entendi que aquela situação nojenta estava me matando por dentro e resolvi mentalmente, tirar o pé e torcer para me mandarem embora. Aquela empresa não fazia acordos e portanto, não havia a opção de fazer negociar uma demissão.

Nada aconteceu. Tirei o pé e não fez a menor diferença. A minha revisão foi até boa, inesperadamente. Aparentemente, eu acabei concentrando esforços nas coisas certas e ao trabalhar menos em coisas que não geravam impacto, eu acabei até sendo melhor visto pela empresa. Meu plano de sair do CLT e receber tudo não estava dando certo. Entretanto, certo dia, no começo da pandemia, houve uma reestruturação de custos e muitos do time foram demitidos. Eu fui um deles. Não houve um motivo claro. Simplesmente me chamaram via teams e me disseram que estavam desligando parte da equipe porque houve a necessidade de reestruturação da empresa devido à pandemia. Recibi absolutamente tudo. Fiquei muito feliz com a demissão e o dinheiro. Eu me senti livre e aliviado.

Vários meses se passaram, tivemos a pandemia e consegui surfar nessa onda de trabalho remoto para outros países. Consegui ganhar muito dinheiro. E assim continuará sendo, porque mais recentemente assumi cargos acima de desenvolvedor, com maiores responsabilidades e de fato, na minha área, estou na elite mundial e termos de qualificações técnicas. Eu consigo entregar qualquer tipo de projeto na minha área, consigo influenciar o backlog e consigo fazer com que várias pessoas trabalhem em uníssono para atingir o mesmo objetivo.

Foco no Dinheiro

Se me perguntassem há uns anos atrás, jamais acreditaria na quantidade de dinheiro que consigo fazer hoje. Mas ao entender o meu poder mental e a minha capacidade de configurar a minha realidade de acordo com o meu pensamento dominante, consegui achar projetos legais, muito dinheiro, chefes melhores, empresas melhores e entendi que finalmente, eu posso escolher o que quero. Não tem sido fácil conseguir isso, no entanto. Muitas vezes bate uma grande bad ao ver que certas coisas não são tão legais, que às vezes o trampo é bem chato/insuportável, que parece que nada vai pra frente e tudo será a mesma merda pra sempre. Mas de vez em quando, gosto de rever os passos já executados e tudo o que já foi alcançado até aqui por mim, principalmente depois de ter mudado a minha mentalidade dominante. Pode ser que ao olhar para trás, você também já consiga ver um grande vale, rios, o sol e quem sabe, aquele vilarejo de onde vc veio como uma mancha na paisagem.

É possível mudar a posição/cargo no barco e sair da casa de máquinas. Mas o mais importante, é possível escolher o que se quer. Hoje é possível simplesmente, não fazer nada e aproveitar a viagem, sem grandes ambições. Ou então, é possível buscar maiores objetivos durante essa viagem. Nós temos o direito e o dever de escolher o que queremos para nossa vida. Mas se eu pudesse dar um conselho seria: escolha primeiro ficar rico. E para isso, escolha cargos e profissões que ajudem nisso. Isso implica, então, em optar por profissões literalmente pelo salário e não pela vocação.

Isso implica, necessariamente, em escolher um curso de exatas, por exemplo, ao invés de Relações Internacionais, Filosofia, Educação Física e outros cursos que costumeiramente geram desempregados com diploma. Sei que é brutalmente triste ver isso acontecer e eu escrevo isso com um nó na garganta, já que pessoalmente creio que todas as profissões deveriam gerar ganhos mais ou menos equivalentes. Mas as coisas são o que são. Temos que “jogar com o regulamento nas mãos”. Isso implica em ter que se esforçar muito mais e tolerar algo muito mais insuportável por algum tempo potencialmente longo (5 a 10 anos). Isso implica em trabalhar em estágios e como trainee em empresas que tenham interesse em contratar pessoas com pensamento matemático mais apurado. Portanto, recomendo áreas de Exatas para ajudar a fazer um caixa inicial. Vale lembrar que é possível fazer mais de um curso na vida e é possível mudar o caminho com tranquilidade após ter um bom dinheiro guardado ou boas fontes de renda. Com o passar do tempo, vamos notando que a estrada tem várias bifurcações e o plano que tínhamos há 6 meses pode não fazer mais sentido. E vale lembrar que trabalhar para os outros é só uma forma inicial de ganhar dinheiro e aprender um ofício. É sempre possível abrir a própria empresa no futuro. O futuro tem muitas possibilidades interessantes. Entretanto, é preciso investir tempo e energia para aprender as estruturas da futura forma de ficar rico. Em geral, na economia moderna, é possível ter ganhos altos em todas as áreas.

Planos mudam. Objetivos não deveriam

Se você realmente quiser chegar a Ushuaia saindo de Natal, você chegará.

Tudo pode acontecer no caminho. Mas o seu planejamento precisa, mesmo assim, ser claro e adequado ao que você precisa fazer. Haverá inúmeros motivos para desvios. Mas não pode haver qualquer motivo trivial para forçar uma desistência.

Quase ninguém tem um objetivo, uma meta concreta aos 15, 16, 20 anos de idade. Muitos sequer sabem o que farão da vida aos 40 anos. E então, escolhem um curso superior sem saber do que gostam, ou vão pegando threads de influencers de redes sociais e entram de paraquedas em alguma profissão, como programação, investimentos ou carreiras como criador de conteúdos. As pessoas acabam sendo teleguiadas por sugestões de terceiros justamente porque não têm um plano concreto, com metas, com milestones e objetivos parciais.

Eu aprendi sobre isso recentemente. Antes eu era um barco largado em alto-mar, seguindo sem objetivos. Meus objetivos em alto-mar eram apenas relacionados à sobrevivência imediata. Nada grande. Nada claro. Nada Nada. Nada. Hoje noto que quase todos nós estamos na mesma. Vez ou outra vejo caras começarem projetos e desistirem. O repo não passa de 10 commits. O super objetivo mal sai do papel. Alguns vão até mais longe e fazem uns 100 commits ou mais. Mas ainda assim, o projeto acaba sendo interrompido por causa de semanas pesadas de trabalho. O trabalho principal acaba crescendo em termos de gastos de energia e fatalmente acaba consumindo a energia disponível para seguir no plano no resto do dia. Voltando à analogia anterior, seria o mesmo que ter um problema com o carro da viagem, se hospedar em algum lugar de Minas, alugar um carro e fazer uber para pagar as contas, arrumar uma namorada, aumentar os custos, ficar no uber mais do que o planejado, e no fim, acabar deixando pra depois a ideia de chegar em Ushuaia.

A vasta maioria dos sonhos morre por simples falta de foco e isso leva, claramente à pobreza no meio da vida. Mesmo quando se tem um bom emprego em uma boa situação, quando não se tem amor ou alegria de fazer o que precisa ser feito, nada acontece na carreira. A promoção não chega. O aumento fica pra depois... e um merge/acquisition acontece inesperadamente…. e o corte de gastos acaba chegando para os average e under-performers.

Uma pessoas conectada a um objetivo concreto acaba incendiando o departamento, a área e eventualmente, a business unit como um todo. Essa pessoa com um brilho no olhar, vontade de correr riscos e perigos e real entrega para o business sempre estará empregada e com altos ganhos. Ter um objetivo claro e que faça sorrir todos os dias é o ideal. Esse objetivo não pode ser apenas “mental”, mas precisa ressoar com o seu coração. Talvez esse objetivo seja muito, muito nobre para a humanidade ou pelo menos, para a sociedade à sua/nossa volta. Pode ser que este objetivo afete positivamente a vida de 100, 1.000 ou 10.000.000 de pessoas. Ao sentir esse calor no coração, toda a criatividade, ações objetivas e decisões levarão à conclusão bem-sucedida deste objetivo. Pode ser que a nossa missão não necessariamente precise estar ligada ao empreendedorismo ou voluntariado, mas sim, pode também estar ligada a trabalhar em uma empresa, como CLT, em uma posição que faça total sentido tanto para si mesmo quanto para a empresa e sociedade como um todo. Todos os caminhos são válidos quando se tem um objetivo concreto a ser realizado.

Crie objetivos financeiros claros e crie objetivos de vida concretos. Tenha certeza de rever tais objetivos o tempo todo.

Conclusão

Não terceirize sua vida.

Não terceirize sua carreira. Seja intencional no que você deseja para si.

Aceite correr novos riscos. Aceite trabalhar mais do que 8 horas se precisar. Aceite a pressão. Entre no jogo. Vença. Faça coisas chatas/insuportáveis para atingir seus objetivos no médio e longo prazo.

Saiba exatamente onde você quer estar daqui a 1 ano e daqui a 5 anos. Também tenha claro como será a vida daqui a 10, 20 e 50 anos.

Não espere gratidão, reconhecimento ou mesmo, alegria com o seu trabalho. Medite sobre a seguinte frase: “Você tem o direito de executar seu dever prescrito, mas não tem o direito aos frutos da ação. Jamais se considere a causa dos resultados de suas atividades, e jamais se apegue ao não-cumprimento do seu dever.” (explicação em https://vedabase.io/pt-br/library/bg/2/47/)

Tenha um objetivo que faça você pular da cama todos os dias. Esse objetivo não pode ser puramente financeiro. Mas ao mesmo tempo, é preciso também ter um objetivo financeiro de curto/médio prazo para alavancar o sonho maior, que precisa ser idealista e grande. É contraditório. Mas estou claramente dizendo que precisamos ter “muito dinheiro para podermos nos sustentar e fazermos coisas que de fato, faríamos de graça por amor”.

Não se esqueça: impactar positivamente a vida de muitas pessoas requer dinheiro. Portanto, é preciso ter muito dinheiro antes. Isso necessariamente requer pensar em você antes de qualquer outra pessoa.

Você pode escolher. Mas agir e não agir também são escolhas. Você pode ficar eternamente em cargos operacionais e ver o tempo passar. Mas o fato é que o tempo vai passar você fazendo uso significativo do tempo e energia… ou não. A escolha entre a Leveza e o Peso é só sua.

Não seja um quitter. Ao ter um objetivo, não desista e principalmente, não mude de plano a cada mês. Se decidir ir para Ushuaia, vá.

Tenha compromisso (falarei mais disso um dia).

O único pecado é não ocupar o seu Lugar no mundo. Você está ocupando o seu Lugar com todo o seu Potencial?

“Priorize o que é importante primeiro. Depois o que é urgente. E claro, busque o discernimento para saber diferenciar importância de urgência.

Fonte: Steven Pressfield — Como superar seus limites internos: Aprenda a vencer seus bloqueios e suas batalhas interiores de criatividade.

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Photo by Ana Viegas on Unsplash

Quando você chegará em Ushuaia?

Não seja o trouxa da casa de máquinas.

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