Sobre racismo estrutural e mercado de trabalho no Brasil

Programador Sincero
14 min readMay 5, 2021

Gostaria de jogar aqui alguns pensamentos sem ter uma ordem particular. Não há grande novidade no que estou citando aqui, mas talvez seja bom repensar algumas coisas, principalmente quando estamos falando da área de programação. Na nossa área as oportunidades são imensas, mas o mundo é muito mais amplo para quem é branco do que para quem não é.

Photo by Clay Banks on Unsplash
  • Tudo está preparado para o sucesso das pessoas brancas no Brasil. Os negros, pardos, nordestinos e os demais não-brancos foram propositalmente e intencionalmente colocados em desvantagem desde o começo da colonização do Brasil, que essencialmente, é uma estrutura criada para favorecer alguns poucos no poder em detrimento de uma massa de escravos e hoje em dia, escravos assalariados e agradecidos por ter um emprego ruim.
  • Não-brancos, pretos e outros são apenas instrumentos de sucesso para o branco que está quase sempre no poder. Ele até tolera a presença “dessa gente” para conseguir atingir seus objetivos. Mas em uma hierarquia comum de empresa, as chances de um preto/nordestino/pardo chegar ao mesmo local que um branco-cis são bem menores. Um instrumento clássico para dificultar a ascensão dos não-brancos é a valorização de cargos técnicos em termos de importância — quando aparece um cara negro altamente qualificado em programação, por exemplo, ele será tratado mais como excelente cão farejador e não como um possível líder da matilha.
  • É muito difícil para os brancos aceitarem gestão ou liderança por influência de um homem ou mulher negra. Os caras até comentam coisas como “quem é ele pra me dizer o que fazer”, “esse filho da puta tá se achando” e etc. Se acontecer de um não-branco ser promovido em detrimento de um branco, será muito mais difícil conseguir exercer a liderança. Ele terá que ser 10x ou 100x melhor em tudo para ser aceito — ou seja — ele passará a vida tendo que justificar sua posição de gestão. Isso é o famoso imposto negro.
  • O rigor com erros de não-brancos é extremamente maior no mercado de trabalho. Isso vale para áreas técnicas e de liderança. Os brancos quando se veem ameaçados em sua situação de poder acabam focando mais nos erros dos seus pares coloridos do que em aumentar os próprios acertos. Há duas classes de profissionais que não podem errar: os que estão na área da saúde e os que estão em uma pele não-branca.
  • Quando um cara branco e mais rico está contratando consultoria de um cara não-branco, a relação é geralmente de submissão. Por mais que o consultor preto seja dono da sua empresa, ainda assim ele será tratado como “meu consultor, meu programador, meu engenheiro” pelo cara branco, que normalmente se vê no “comando”. Quando a relação é de branco com branco, isso muda. O tratamento automaticamente muda para “ele é o José da Silva da empresa XPTO Consulting e está colaborando neste projeto com a equipe dele para _____”. A relação de subordinação passa a ser uma relação de parceria, com equidade.
  • Sabemos que cargos de gestão são quase exclusivos para brancos aqui no Brasil (é, no mundo também — pesquisei de novo em 2021). Portanto, há algumas empresas moderninhas que estão fazendo ações afirmativas para corrigir isso. O povo branco-cis tolera chefes com outras orientações sexuais, mas dificilmente tende a aceitar a liderança de pessoas não-brancas e principalmente, pretas/nordestinas. É ridículo, mas infelizmente ainda é verdade, e isso não é novidade.
  • Como bem sabemos, hoje a liderança é cada vez mais baseada em influência do que em autoridade. Isso é um problema ainda maior para o não-branco. Em muitos tipos de projetos (ou melhor, iniciativas!), cria-se um grupo de trabalho com membros de vários times, com chefes diferentes e áreas diferentes. A chance de um negro conseguir gente para ajudar em um projeto é bem menor do que a de um branco. Infelizmente, muitos brancos simplesmente estarão “ocupados demais para ajudar nesta iniciativa, que com certeza é importante e trará muitos ganhos para a empresa”. Esse é um problema grave. Muitas empresa avaliam as pessoas pela capacidade de gerar impacto positivo no business. Para se gerar impacto, na prática, é preciso ter gente engajada para alcançar o objetivo desejado. E é neste ponto, hoje em dia, que muita gente boa acaba desistindo das carreiras de liderança. E é neste ponto que muitas pessoas acabam desistindo até mesmo do mundo corporativo. As opções de carreira para negros, pardos, nordestinos e demais etnias que sofrem discriminação diariamente são na prática, restritas para quem trabalha em cargos técnicos, ou em vasta maioria, são mantidos em cargos operacionais por toda a vida.
  • Vale lembrar aqui que justamente por esse motivo, é capaz de vermos empreendedores pretos contratarem vendedores brancos para poderem ter uma penetração maior do produto entre os potenciais clientes, que também são brancos. E usando a mesma regra, a contratação de negros em equipes de vendas e pré-vendas é particularmente muito rara de se ver. É até difícil imaginar a cena onde um Cloud Solutions Architect demonstre um projeto para uma audiência branca. E é mais difícil ainda a apresentação passar lisa e ser convertida em um projeto. E é também difícil imaginar que a apresentação não tenha alguma surpresinha-bomba jogada pela audiência, como novas características de rede, alterações do projeto, entradas de novos players e outras novidades que poderiam ser informadas previamente e não foram, de propósito. E claro, nesse tipo de apresentação terá um “whitesplaining” da audiência, geralmente incomodada em ouvir instruções sobre como devem proceder com arquitetura do projeto. Nesses casos, o imposto negro obriga o cara a ser perfeito em tudo, até na roupa que usa. O investimento em roupas caras passa a ser mandatório. Um branco-cis fazendo a mesma apresentação, com os devidos sorrisos, conseguiria fechar a venda muito mais facilmente, de camisa social e jeans.
  • Indo nesse sentido, mesmo para cargos técnicos, é muito mais difícil uma mulher negra conseguir um emprego que pague super bem. Um homem-branco-cis tem muito maiores chances de “ser a pessoa que estávamos procurando”. Os brancos em geral percebem os não-brancos como menos capazes. Quando aparecem com uma universidade pública no currículo, os comentários acabam demonstrando surpresa, perguntas sobre cotas e coisas assim — é difícil para o branco admitir a superioridade curricular de um negro. Uma entrevista em uma empresa comum geralmente é feita em uma sala contendo a pessoa colorida como entrevistada (alvo, na verdade) e um conjunto de pessoas brancas entrevistando, claro, para passar a sensação de imparcialidade no processo. Mas claramente o potencialmente talentoso entrevistado não se encaixa muito bem com a cultura da empresa. Durante a entrevista, muitas vezes, eles acabam criando problemas falsos da empresa, como por exemplo “então Marcelão, aqui nós trabalhamos muito e quem entra com a gente tem que ter o espírito de dono, empreendedor”, “como está a sua disponibilidade de horários”, “aqui não trabalhamos com banco de horas, mas estamos em uma fase de muita correria e precisamos de gente que entenda este cenário desafiador”, “quem fica com seus filhos?”….. um monte de merdas assustadoras. Eles em geral são evasivos quando se fala de oportunidades de carreira, crescimentos, valores de bônus e os demais detalhes que importam. A ideia é fazer o cara não ir até o fim, porque afinal, o “fit cultural do entrevistado não é o ideal (por não ser branco)”. Ah, esqueci. Dependendo do bairro, o “filtro cultural” já funciona antes da convocação para a entrevista. Colocou Grajaú? Sapopemba? Guaianazes? Suzano? Já sabe.
  • Se a entrevista dá certo e o nosso heroico e talentosos negro programador consegue a vaga, excelente! O nosso herói tem mais uma função nesse cargo: servir de chaveiro para a empresa, aparecendo em vários posts do LinkedIn na referida empresa, que costumeiramente se aproveita desse coitado para provar para a sociedade que é inclusiva, que contrata “até mesmo pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades”. Provavelmente veremos na linha do tempo o cara postando sobre maldito kit de boas-vindas com um discurso falando sobre o imenso sendo de gratidão pela oportunidade… mas com o tempo *não* veremos o cara falar de coisas relevantes que tenha feito pela empresa. Não veremos o cara agradecendo os seus subordinados por um grande feito alcançado, salvo raras exceções ou então, bolhas completamente distintas da minha realidade. Peço exemplos concretos para mudar esse meu ponto! Com links!!!
  • O não-branco talentoso é sempre usado como exemplo ou contraexemplo de algum tipo de discurso opressor. É o cara usado no argumento do “eu até tenho amigos pretos”, “tá vendo, ele chegou até aqui pelo próprio esforço”, “ele é uma inspiração para muitos de nós” e por aí vai. A galera branca que está no comando adora a diversidade até o momento em que a diversidade se torna ameaçadora para o seu lugar de poder. Isso vale até mesmo para coisas fora do mercado de trabalho. Muitos caras não gostam da ideia de ver pessoas “diferentes” terem um carro bom, um celular top, casas legais, viagens maravilhosas… tudo isso soa como uma afronta de gente que “não sabe o seu lugar”. Portanto coloridos, já sabem: tenham muito cuidado com o que vocês expõem em redes sociais. O “fit cultural” também analisa se o candidato de cor tem “ambições”.
  • Sobre redes sociais: se por acaso você é preto e tem uma vida muito melhor que a média de seus colegas (embora ainda precise de trabalho e emprego), tenha cuidado. Há uma enorme patrulha tentando vigiar seus movimentos e principalmente, o quanto sua vida está melhorando com o tempo. Se você fizer rolês incríveis, cuidado ao postar. Sua vida no trabalho será mais difícil.
  • Sobre política: cale-se nas redes sociais. Mesmo em likes, retweets. Isso também é patrulhado e pode fazer parte do pacote “fit cultural” de rejeição.
  • A confiança de um branco em geral é muito maior. Além do “imposto negro”, a síndrome do impostor bate muito forte em quem “não está no seu devido lugar”. Então, é muito mais complicado, como dito acima, um cara não-branco ter a coragem para liderar um projeto, uma equipe de brancos, ou mesmo, ter a plena confiança de que está fazendo um excelente trabalho. A cobrança e os feedbacks em geral são muito mais negativos para os negros do que para os brancos. As punições exemplares (suspensão de bônus, planos de melhorias, demissões) em geral tendem a acontecer primeiro com os negros da equipe. Vale lembrar que as mulheres também sofrem bastante com essa coisa de confiança. E fico imaginando como deve ser foda para uma mulher negra, da periferia, conseguir liderar uns 10 brancos ou mesmo, 10 times com vários caras. Não sei se conheço algum caso próximo. Até existem casos na mídia, mas infelizmente, ainda não percebo esta mudança na minha realidade.
  • Autoestima em bons níveis é uma coisa raríssima na humanidade. Poucas pessoas sabem do seu real valor e quase todas julgam o próprio valor de acordo com o que recebem de feedback do mundo real. O mundo real pode ser bem cruel com as pessoas que não estão no padrão social. É muito difícil para um negro, que sempre foi muito mais preterido do que aceito quando resolveu “sair do seu lugar”, entender que efetivamente tem um valor incalculável para este mundo. Se o feedback que o negro recebe é uma característica do mundo que ele percebe, é muito difícil que ele consiga sozinho ignorar o que o mundo lhe dá para construir uma nova imagem positiva e de sucesso infinito. E como alguns já devem saber, nós nos tornamos aquilo em que mais pensamos. A autoestima baixa é um caminho seguro para uma vida abaixo do potencial que se tem ao nascer.
  • Em muitos casos, esse negro, esse nordestino, esse “mulato” (não use esta palavra), esse lutador, esse brasileiro-guerreiro começou sua luta muito cedo na vida. Com muita sorte, teve pais com mais dinheiro ou educação que o normal visto para esse país de grandes desigualdades sociais. Com muita sorte, estudou em escolas cheias de brancos e não foi aceito socialmente. Foi tratado como cidadão de segunda classe pelos colegas e pelas meninas/meninos. No máximo, foram alvos de interesse de pessoas brancas em busca de dotes físicos e só — nada de “levar pra casa”e coisas assim. E isso foi fustigando o nosso guerreiro ou nossa guerreira, que sim, tem olhos, coração, sonhos, ri e chora — não é um simples brinquedo sexual.
  • Esse cara e essa mina são foda. São brasileiros de cor que sobreviveram aos tempos escolares com mágoas e motivação para lutar cada vez maior. Toleraram os micro-abusos dos brancos e seguiram em frente. Provavelmente estudaram em uma faculdade bacana e teve que dar o sangue lá. Sentiram o rigor dos professores nas notas. Sentiram o sarcasmo ao perguntar coisas na aula. Ficaram então com dúvidas em silêncio e tiveram que pesquisar sozinhos as respostas. Noite por noite. Madrugada por madrugada. Lista por lista de exercícios. Provavelmente fez muitas horas extras no estágio, entregou bons trabalhos que foram ignorados por brancos e atualmente, nos empregos de hoje, fazem o mesmo. E no fim? Nada está bom. Ninguém elogia. Os feedbacks são sempre no estilo shit-sandwich ou pro-forma, só para manter o cara quieto. A promoção nunca vem. O emprego dos sonhos não chega. Todo mundo da turma está com um LinkedIn cheio de boas experiências e vivências, como se a vida magicamente sempre desse certo para todos os outros e nosso guerreiro nunca fosse capaz de se bom também. Mas o fato é simples: enquanto nosso guerreiro de cor está lutando para que os comentários agressivos em seu pull request não o abalem ou que a dispersão no café não aconteça quando ela chega, seus colegas brancos estão em algum café celebrando mais um projeto concluído e um bônus perfeito. Os negros, pardos, indígenas e outros não-brancos sofrem eternas micro-agressões continuamente. A vida para essa galera é sim, de fato, mais íngreme e bem mais amarga. Ao escolher concorrer de igual pra igual com os brancos, eles estão se expondo diariamente, tendo que lutar diariamente pra sobreviver, para manter o nome, para não ser o próximo da fila da demissão, para juntar uma grana… e claro, para trazer o troféu do sucesso apesar de tudo, para a casa de sua família. Apanhando tanto e sendo tão julgado diariamente, quem é que consegue manter uma autoestima no topo? Pouquíssimos.
  • Às vezes nosso guerreiro de cor pode se dar bem e encontrar um porto seguro. Um time bacana, numa empresa bacana, que paga em dia, CLT, bônus, escola para as crianças, plano de saúde com gente branca atendendo (e dando vacina com mais força pra foder)… Aquele delicioso paraíso. E como tempo, o nosso herói vai ganhando em conhecimento, importância e maestria no projeto. E claro, ele vai ficando. Mas e aí? Acontece o óbvio. O cara acaba virando o dono do projeto, até consegue coordenar o trabalho de algumas pessoas, até tem um salário decente. Mas o problema é que ele é visto como mais como uma peça operacional importante do que um peça tática ou estratégica na empresa. As oportunidades em projetos novos, ou mesmo, novas divisões de produto acabam ficando novamente nas mãos de pessoas “preparadas para tocar esse desafio”. Ou seja, o melhor lugar para um negro, pardo, indígena ou outro não-branco é justamente esse: um monótono cargo operacional, quem sabe, de alguma importância. É o típico cargo onde a pessoa só ganha algum aumento substancial ao conseguir outra coisa melhor. E isso vai matando por dentro a pessoa. Sem grandes novos desafios, mais demandas urgentes, mais monotonia, mais tédio…. o burnout e a depressão chega. Com uma qualidade de vida salarial boa, o cara vai tocando a vida. Mas ele muitas vezes não tem consciência de que está sendo boicotado e pior, não tem consciência de que sua depressão e seus sentimentos ruins com o trabalho estão vindo de motivos mais profundos e difíceis de explicar para a esposa, para os colegas e para si mesmo. Todos que estão à nossa volta adoram explicar o mundo usando comparações. Usamos essas desculpas para nos acalmarmos. O nosso herói-vencedor negro ouve, em momentos de tristeza, discursos motivacionais como “pq vc tá com essa cara de bosta? porra vc tem tudo! emprego, grana, carro, escola pros seus filhos e comida na mesa caralho” / “pois é, vc viu o que aconteceu com o marido da Meire? Mandaram ele embora do nada depois das férias dele!” / “nossa, graças a deus que o bônus e a PLR vieram boas esse ano! vamos poder fazer uma viagem top”…… mas no fim, nada dessa merda toda faz sentido. Até mesmo para brancos não-racistas isso vale como verdade. Até entre os brancos há uma grande concorrência e a luta está longe de ser fácil ou justa. Mas o que quero dizer é que nosso herói negro brasileiro vencedor está quase sempre se doando ao máximo para manter seu emprego, sua família, sua reputação e tudo mais. Mas pouco está fazendo para cuidar de sua saúde mental, de seus espírito, do seu lazer e da sua saúde. E claro, quando a performance cai um pouco, a cobrança é muito grande de todos. E lá vamos nós de novo acompanhar uma nova sprint de esforços infinitos para o cara negro que resolveu não aceitar o lugar que os brancos lhe deram e resolveu lutar.

O que fazer para resolver isso?

Eu não sei. Sinceramente, não vejo saída tranquila para este cenário. Quem está no poder claramente vai fazer de tudo para manter esse poder, como está acontecendo hoje na Colômbia. A polícia é uma organização que tipicamente serve para proteger as classes sociais superiores e age de forma politizada no Brasil. Usar violência pura não vai resolver e só vai levar a mortes desnecessárias. Vide a violência na repressão das manifestações contra e a favor de certas ideologias. A justiça brasileira também peca nesse aspecto e não há como se falar em garantismo quando temos um negro preso injustamente pela polícia. A repressão também ocorre das mais diversas formas e nuances nos mundo público e privado. Uma pessoa que resolve levar uma conduta errada ao RH dificilmente verá uma ação concreta ocorrer. Ou seja, as empresas em geral não oferecem caminhos seguros para denunciar atos de discriminação, racismo ou tratamento desigual. A luta é complicada e é uma batalha muito desigual, ainda. Mas é preciso continuar, seguir em frente e fazer o melhor possível para melhorar esse mundo. Para mudar este cenário é preciso paciência, persistência e principalmente, jogo de cintura e muita inteligência.

Se você por acaso conseguir empreender digitalmente e é uma pessoa não-branca, pense em contratar pessoas não-brancas para te ajudar. Pense realmente em diversidade — mulheres com filhos, diversidade sexual e racial. Tenha coragem. Não seja só mais um buscador de dinheiro, embora lucratividade sustentável seja muitíssimo importante. Combater a desigualdade é uma possibilidade rara hoje. Poucas pessoas com poder econômico conseguem pensar de forma coletiva e inclusiva. Mas fazer parte deste grupo de pessoas transformadoras pode ser a semente para algo muito maior com o passar dos anos.

Invista na educação dos seus filhos negros. Faça-os ter consciência de classe e espírito de luta. Mantenha a sua família unida e faça de tudo para enriquecer e ter uma qualidade de vida suficientemente boa para que seus filhos não tenham que começar do zero mais uma vez. A guerra se vence dia após dia, batalha após batalha, moeda por moeda poupada. Estude o máximo sobre finanças e riqueza. Invista em tratamento psicológico, terapia e o que precisar para ter uma autoestima melhor e com isso, melhores resultados práticos.

Se você conseguir, ajude de verdade também pessoas não-brancas nos estudos, na vida pessoal e mais pra frente, no trabalho. A cor não-branca está fortemente relacionada com a evasão escolar, com a falta de base familiar, com famílias escravizadas por trabalhos opressores. Sofrem com escolas ruins, com baixa qualidade de alimentação, com pais separados/ausentes/mortos e todo a sorte de problemas inimagináveis para quem tem um núcleo familiar mais sólido. Provavelmente esse cara nunca conseguirá falar inglês por conta própria, não terá dinheiro para cursos avulsos profissionalizantes e estará sempre em ampla desvantagem em comparação com um filho de branco que chega de carro de 180 mil em sua escola particular. O racismo estrutural muitas vezes é difícil de entender e ser percebido pelas pessoas de bem que são brancas e tiveram privilégios. Este texto é um convite para que todos nós pensemos um pouco sobre esse assunto tão importante e tão duro.

Há muitos motivos para não fazer nada. Mas como eu já disse em outros posts, a não-ação também é uma ação.

--

--