Pra mim nunca tá bom

Programador Sincero
Programador Sincero
2 min readFeb 16, 2024

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Eu deveria ser um dito cidadão respeitado que fica feliz com seus 4000 mil cruzeiros e dá a pipoca pros macacos todos os malditos domingos com a sua bela família. É sempre a mesma jogada. Um emprego, uma namorada. É cada vez mais difícil de vencer pra quem nasceu pra perder.

Mas não. Não vai ter moço do disco do voador. Ninguém vai curtir rolê nas estrelas por aí. É isso mesmo. Se tiver sorte, é uma casinha, um carro e uma prestação. Ouvindo as frases feitas. Curtindo essas noites perfeitas. Oh, eu queria ter uma bomba.

Continuo sendo um cordão umbelical. Pra mim nunca tá bom. Nunca. Olhos nos olhos, quero ver como suporto me ver tão infeliz, todos os dias. Não confio mais em ninguém com mais de 30 anos. O Professor tem mais de 30 conselhos, mas ele tem mais de 30. Assumo os pecados e ainda sigo, sozinho? O que é estar sozinho? O que é estar em paz?

O meu coração ainda é de estudante. Está no lado esquerdo do peito. A saudade ainda está no varal. Eu queria ter uma bomba, eu queria ter um mundo que você não vê. Eu queria realizar o sonho que você não crê. Eu queria ver o escuro do mundo pra me transformar no que me agrada.

Cadê o azul da cor do mar? Estou na lanterna dos afogados. Vejo as sombras da praia, uma alucinação. Uma companheira e um filho no mundo. Pra mim nunca tá bom, no escuro do meu quarto, à meia-noite, à meia luz, sonhando. Daria tudo por meu mundo e nada mais? Será que eu tive tudo alguma vez? Será que o escuro do mundo vale a pena ser visto? Noites e dias ainda se completam, e o meu ódio é cada vez mais eterno. La leche buena toda en mi garganta.

I know I am unhappy. Hanging on in quiet desperation. It’s good to warm my bones beside the fire, while my guitar gently weeps. Despite all my rage, I am still a rat in a cage.

O livro do Pixinguinha ainda está na mesa. Ninguém tomou o Neruda e ninguém nunca o leu. Eu bato o portão sem fazer alarde, com a leve impressão de que já vou tarde.

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